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Tesouros da Turquia

Bosforo

Quando decidi marcar a viagem à Turquia, tudo o que mais me diziam era para esperar, que não era a altura ideal, com os atentados terroristas, a instabilidade política, as manifestações e a possibilidade de um novo golpe civil. Decidi não ouvir...

A proximidade da Síria e do Islão eram assustadoras, devo confessar. Estar tão próxima de um outro lado do Mundo que só vemos - aterrorizados e com lástima - pelas notícias, era um risco que me pediam para não correr. Mesmo assim, decidi não ouvir!


Não estou arrependida, pelo contrário, ficou o desejo de um dia voltar, de conhecer ainda mais, de reviver a magia das mil e uma noites.

Nos meus ouvidos ainda encoam os sons da vida de Istambul e o silêncio imponente da Capadócia. No meu leitor de música, continuam a correr os ritmos turcos das músicas de Tarkan, que ajudam a mitigar a saudade de uma terra que me surpreendeu tanto pelos seus contrastes, como pela sua vitalidade e beleza.


Tudo na Turquia é brilhante, como o ouro que reflete nas bancas do Grande Bazar, as mesquitas que acolhem crentes e turistas, os balões que sobem aos céus às dezenas - nunca imaginei que fossem tantos! - e as cavernas que ainda hoje abrigam locais e hotéis de luxo.


Um país de gente bonita e com vaidade, mais do que o fascínio da dança do ventre e a mística dos derviches rodopiantes, a Turquia é o exemplo da convivência pacífica entre muçulmanos e cristãos, onde na mesma praça se situa a Mesquita Azul ao lado da Santa Sofia.


Essa é a beleza essencial de uma cultura que se construiu e renovou com o passar dos séculos. Onde nasceu o conceito de Cristianismo, mas as bases fundamentais do Islamismo continuam presentes em mais de noventa por cento da população, na consciência de que pode, sim, ser praticada a religião sem que, para isso, seja necessária à sociedade civil abrir mão dos direitos básicos das mulheres e do Ser-Humano.


A nossa guia, Banu, cujo nome significa princesa e vinho, oriunda de uma família de mãe cristã e pai muçulmano, teve esse poder de escolha. Muçulmana praticante, ia explicando ao longo da conversa, os rituais de reza que lhe servem, mais do que apenas um acto de fé, como uma forma de meditação.

Não usa véu, não se proíbe da sua liberdade de expressão e não está de total acordo com as imposições de certos preconceitos, que são tidos como a palavra do profeta. Na sua óptica, como na minha e da grande parte dos ocidentais, não são as vestes que definem a mulher e não é uma burka que a torna mais ou menos religiosa.


Um país onde a Wikipédia está bloqueada, mas a informação e a cultura não são vedadas, de todo, graças a Atatürk - o pai dos Turcos, que preconizou reformas importantes para a sua ocidentalização - a Turquia é, hoje em dia, a porta de dois mundos distintos, Ocidente e Oriente.


Nem de todo o Mal vive o Mundo, nem podemos encontrar o Bem em todo o lado, mas se me dissessem que esta seria a viagem de uma vida, talvez eu não acreditasse... Até vivê-la!

Na Turquia, eu fui imensamente feliz! Restam as memórias e as fotos para o provar; o vôo de balão, as cidades subterrâneas, o anoitecer sobre a ponte Galata, o Lago Salgado e a paisagem inacreditável de Pamukkale, são experiências que guardo dentro do coração, para nunca mais largar.


Ainda bem que não ouvi quando me diziam para não ir! Não estaria aqui a escrever-vos sobre os tesouros da Turquia, sem palavras suficientemente grandiosas para a descrever. Ainda bem que os meus temores nunca são maiores do que a minha sede de ir, conhecer, experimentar e saborear.


Abençoado seja o meu espírito contraditório e aventureiro, porque há lugares que nos preenchem e amarram à História e eu, que me apaixono por eles, continuo aqui, de braços abertos, para os percorrer. Afinal, ainda tenho o Mundo à minha espera! 🙏🌍

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